Obrigada, Klose!

sábado, 10 de julho de 2010

IRCE FALCÃO

Tudo indicava para uma nova quebra de recorde em Copas do Mundo. O atacante alemão Klose começou o Mundial a todo vapor, deixando claro que Ronaldo Fenômeno poderia perder o posto de maior artilheiro de todos os Mundiais. Klose marcou quatro gols na Copa da África do Sul, ficando a apenas um de igualar a conta do brasileiro, e a dois de ultrapassar o 15 gols assinalados pelo ídolo canarinho. Hoje, ele não atuou devido a problemas na coluna.

Para Ronaldo, um gol a mais ou a menos não diminuiria a rechonchuda (como o fenômeno) conta bancária que ele possui. Se o atacante estivesse realmente preocupado em manter a marca e fixar, ainda mais, o nome dele na história dos Mundias, ele teria se cuidado para disputar mais uma Copa na carreira, pois qual treinador não convocaria um Ronaldo em boa forma? Nem Dunga resistiria. Mas, enfim.

Para nós, brasileiros, é sempre bom poder abrir a boca e dizer que somos pentacampeões do mundo e, como um bônus, temos ainda o maior artilheiro de todas as Copas. Pense num orgulho danado de uma conquista onde não despejamos uma gota de suor. Tudo fruto do trabalho alheio. Mas o patriotismo aflora nesses momentos, além de ser muito legal tirar onda com os adversários. Então, desejo melhoras a Klose, pelas dores de coluna, mas destino é destino, e não ia ficar legal um alemão tomando lugar de brasileiro na artilharia. Obrigada, Klose!

Uma final escrita por Franz Kafka

KAUÊ DINIZ

É engraçado. Deveríamos lembrar com mais exatidão das nossas alegrias do que tristezas. Mas acho que, talvez, o ser humano para não querer errar novamente, tende a recordar daquelas cicatrizes que deixaram marcas profundas. E a final da Copa do Mundo de 1998 foi assim. Foi um tipo de Maracanaço, claro com suas devidas proporções, e devidas mesmo, do final do século XX.

Após passarmos pelo timaço da Holanda, nas semifinais, não havia quem duvidasse do pentacampeonato. Ronaldo estava na ponta dos cascos. Taffarel pegando tudo atrás. Tudo bem que nosso zagueiro era Júnior Baiano, já tinha até esquecido disso e é melhor deletar da memória novamente. Mas a Seleção se não era 100% qualidade, também não decepcionava com Bebeto, Rivaldo, Leonardo, César Sampaio, Roberto Carlos.

A França, sinceramente, não metia medo. Chegou cambaleante à final. Zidane, até então, não era o Zidane que hoje todos nós reverencíamos. Os Bleus tinham um ataque, formado por Guivarc e, às vezes, Dugarry, que, simplesmente não sabia fazer gol. Eram horríveis mesmo.

Por isso, fui assistir à final da Copa na casa de um amigo da época do colegial com a certeza de que o caneco era nosso. Mas logo ao chegar na casa dele, seu pai foi logo me informando: "olha, o Ronaldo parece que não vai jogar. Tão dizendo que quem vai entrar de titular é Edmundo". Era apenas a ponta de um iceberg que se tornou a traumática e tão discutida final de 98, que até hoje tem quem acredite piamente que os homens-forte do nosso futebol venderam nosso título.

A falta de informações precisas na ocasião, misturada à apatia de Ronaldo e toda a equipe dentro de campo, foram a cada minuto adormecendo as esperanças do pentacampeonato. O brilhante escritor tcheco Franz Kafka parecia ter renascido dos mortos para contar em formas surreais as últimas horas de um time moribundo. Um surrealismo explícito no gol de cabeça de Zidane. Pois é, como Sneijder, agora nesta Copa, o francês também jamais havia marcado um gol de cabeça.

Atônitos, acho que não só eu, mas a grande maioria dos brasileiros, até mesmo pelo exemplo da reação dos meus amigos presentes naquele "funeral", não tínhamos forças para reagir. Não houve xingamentos, nem lágrimas. Apito final, todos calados, fomos jogar ping-pong, como se nada houvesse acontecido.

Em boas mãos

IRCE FALCÃO

Emocionante, imprevisível, movimentado. O duelo entre Alemanha e Uruguai foi bom de ver, digno de entrar para a lista dos melhores jogos deste Mundial. A cadência da partida foi quase um passinho de dança, um (ataque) para lá, outro para cá, mostrando o equilíbrio que marcou o confronto. Se alguém esperava uma Alemanha sem motivação, cabisbaixa por causa da derrota na semifinal, surpresa! Os pupilos de Joachim Löw mostraram o porquê de terem sido considerados favoritos ao título, partindo para o ataque em velocidade e abrindo o marcador com o sempre oportunista Müller, que fez cinco gols em uma Copa brilhante.

Os uruguaios foram um capítulo à parte. Apesar da derrota, eles correram, atacaram, se defenderam (exceto o goleiro Muslera, que faltou nas aulas de atenção, saída do gol e iniciativa, falhando nos gols europeus) e, sem dúvidas, vão desembarcar em casa como verdadeiros heróis, afinal, esta delegação foi responsável por recuperar a imagem da Celeste no futebol mundial. Como verdadeiros guerreiros, jogaram em igualdade com um timaço, chegando até a virar o placar no início do segundo tempo, com um golaço de Fórlan, que jogou muito e só não fez chover nesta Copa. Ele é O Cara!

A virada, no entanto, não foi suficiente para segurar o tal "rolo compressor" alemão, que sufocou a defesa uruguaia até empatar e ficar, novamente, em vantagem no placar. Para quem gosta de bom futebol, com ingredientes tradicionais como emoção e muitos gols, essa decisão pelo terceiro lugar, definitivamente, não deixou a desejar. Quando parecia já estar tudo definido, eis que Fórlan ainda coloca uma bola no travessão, que se diga de passagem, foi um pecado não ter entrado.

Confesso ter torcido para a Celeste, pelo calor sul-americano, a garra do time e a festa de um povo que não comemorava há tempos. Mas admito que o bronze está em ótimas mãos, premiando uma seleção jovem, audaciosa, que promete dar muito trabalho na Copa de 2014, no Brasil. A Alemanha repetiu a colocação de 2006, quando venceu Portugal e ficou em terceiro lugar. Estou é curiosa para saber se os atletas, que disseram não querer festa, vão resistir a tal cervejinha na comemoração pela vitória. Duvido.

A primeira decepção

LÉO LISBÔA

Final de Copa do Mundo não tem como brasileiro não lembrar. Seja por alegria ou tristeza, os duelos que acontecem a cada quatro anos acabam não saindo da memória de um povo que é tão aficcionado por futebol. Em meus 24 anos de vida, me lembro de ter acompanhado as decisões de 1994 (Estados Unidos), 1998 (França), 2002 (Japão e Coreia do Sul) e 2006 (Alemanha).

Apesar de assistir à Seleção Brasileira ser tetra e pentacampeã na América do Norte e na Ásia, uma decisão que me marcou foi França x Brasil, em Paris, em 1998, jogo em que os donos da casa golearam a Canarinho por 3x0, não deixando dúvidas onde a taça deveria ficar.

Naquele Mundial, então com 12 anos, a empolgação era total. Embalado pela Conquista em 94, logo na primeira Copa do Mundo em que acompanhei, acreditava que a Seleção Brasileira ganharia mais um título. Mero engano. O início foi de animar. Na primeira fase, sob comando do técnico Zagallo, que esteve presentes nas outras quatro conquistas, o Brasil venceu Escócia e Marrocos, mas foi derrotado pela Noruega.

No mata-mata, mais sucesso da Seleção. Nas oitavas de final, vitória por 4x1 sobre o Chile. O duelo seguinte, com uma atuação inspirada do pernambucano Rivaldo, triunfo por 3x2 em cima dos dinamarqueses. Contra os holandeses, que seriam os algozes este ano, coube ao goleiro Taffarel garantir a vitória ao defender dois pênaltis.

Para a grande final, contra a França, a expectativa era a maior possível. Não quis saber de superstição. Ao invés de assistir no meu quarto, onde tinha acompanhando as partidas anteriores, fui junto a minha família assistir na casa de um tio. Após o almoço, o primeiro susto. Roinaldinho não estava entre os titulares divulgados pela Fifa. Mas o atacante entrou em campo, junto com os outros dez atletas. Melhor que não tivesse entrado.

O Brasil não se encrontrou e levou dois gols de Zidane ainda no primeiro tempo. Desolado, fui para casa, sabia que o sonho do penta tinha terminado, pelo menos naquele ano. Os 45 minutos finais nem assisti, perdi até o terceiro gol. Preferi jogar videogame...

Vale o terceiro lugar

IRCE FALCÃO

Se em muitas competições a disputa pela terceira colocação é vista como uma partida secundária, sem tanta badalação, Uruguai e Alemanha prometem mudar qualquer estereótipo deste tipo. Logo mais, a partir das 15h30, as duas equipes entram em campo com o objetivo de encerrar a passagem no Mundial da África do Sul com uma vitória. Afinal, ambas fizeram uma bela campanha na competição.

Do lado uruguaio, vejo esse jogo como histórico, pois a Celeste não apresentava um bom futebol há alguns anos, e a Copa de 2010 pode marcar a retomada dos sul-americanos entre as forças do esporte. Estará em jogo também uma quebra de tabu, pois o Uruguai não vence os germânicos desde os Jogos Olímipcos de 1928. Uma seca de 82 anos.

Já para a Alemanha, a terceira colocação pode soar como um prêmio de consolação. Sim, porque os europeus mostraram um futebol bonito e empolgante de ver, com um time composto de garotos, donos de um contra-ataque no estilo "rolo compressor". Os comandados de Joachim Löw eram tidos como certos na grande final do Mundial, e a derrota para a Espanha, sem dúvida, ainda não saiu da mente deles. A frustração foi grande, tanto que os atletas adiantaram não terem interesse em comemorar o bronze, como aconteceu em 2006.

Acredito em uma partida de muitos gols, pois o Uruguai terá o retorno do atacante Luis Suaréz, ao lado do habilidoso Fórlan, enquanto a Alemanha poderá contar com o oportunista Müller, que, ao lado de Klose, é o principal finalizador das jogadas ofensivas dos europeus.

Palpites para o vencedor:

Paul, o polvo profeta: Alemanha
Eu: Prefiro acompanhar a opinião de Paul, afinal, ele foi bem melhor que eu nas apostas da Copa.

A final de 1998

GUSTAVO LUCCHESI

Como passei a acompanhar as Copas do Mundo a partir da edição de 1994, faço parte de uma geração que cresceu e acreditou que o Brasil fosse praticamente imbatível em Mundiais, por isso é tão estranho acompanhar duas quedas seguidas nas quartas de final, como em 2006 e 2010. Mas vamos ao que interessa. Instintivamente, pensei em escolher a final de 1994, contra a Itália, que, curiosamente, está bem mais fresca na minha cabeça do que a de 2006.

Porém, na tentativa de fugir um pouco do óbvio, escolhi uma que é tão inesquecível quanto o tetracampeonato, mas com um sentimento final completamente oposto: a de 1998, contra os franceses. De antemão gostaria de avisar também que a decisão de 2002 foi "arretada", mas não me contagiou tanto, pois considero aquele título óbvio demais, sem riscos para o Brasil. Sem desmerecer a conquista, obviamente.


Naquela Copa da França, acompanhei todos os jogos do Brasil no meu quarto, de porta fechada, enquanto meus irmãos e amigos se reuniam na sala e faziam aquela bagunça. Cheio de confiança, resolvi me juntar aos "baderneiros de plantão" e saí da minha toca justamente na grande final, com toda a certeza do mundo que o título já estava nas mãos do Brasil. Me lembro muito bem quando chegou a notícia de que Ronaldo Fenômeno estava fora da final.

Claro que, inicialmente, todos levaram na brincadeira, com o pensamento de que o "grande truque do velho Lobo Zagallo" foi utilizado para "catimbar" a decisão. Na partida, mesmo com o primeiro tempo terminando 2x0 para a França, eu não tinha dúvidas de uma virada brasileira. Com o passar dos segundos, fui murchando, murchando, até que precisei ver o gol de Petit para acreditar realmente que o Brasil tinha deixado o pentacampeonato escorrer pelos dedos. Não chorei, pois a ficha só caiu dias depois, mas, como diria um amigo meu, aquilo machucou muito meu "x-coração". Ah... Machucou.

A epopeia azul

PAULO FAZIO

Quando o assunto é Copa do Mundo, as minhas primeiras lembranças remetem a 1994, quando o Brasil foi campeão nos Estados Unidos, naquela disputa de pênaltis inesquecível contra a Itália. Mas, curiosamente, a final que mais me marcou não envolvia a Seleção em campo, mas envolvia disputa por penalidades. Foi no ano de 2006, no Mundial da Alemanha. Aquela foi a primeira Copa que me envolvi realmente. Assistia a todos os jogos, um verdadeiro secão. E o duelo entre França e Itália foi a cereja do bolo.

Mesmo com a eliminação de Parreira e seus comandados, segui fervorosamente o andamento da competição. Zidane liderava a França e enchia os olhos dos amantes de futebol, enquanto a Itália era Itália, crescendo jogo após jogo, com aquele peso que a camisa azul tem. A final foi o ápice de tudo, com um enredo digno de epopeia. O gol de pênalti categórico de Zizou, seguido do empate de Materazzi. A história estava escrita e os personagens escolhidos.

Veio a prorrogação e toda a cena que ninguém esquece. Primeiro o vermelho. "Não se pode expulsar Zidane em uma final, é um atentado ao futebol", me lembro de estar gritando. Mas depois vieram as cenas do lance, que, ao ver na hora, fiquei estatelado. Um ídolo perdendo a compostura, mas ao mesmo tempo mostrando que todos são humanos, independente do status que tenha.

Depois dos 30 minutos de prorrogação, que ainda contou com lances de perigo, como uma grande defesa de Buffon, pegando uma forte cabeçada de Zidane com apenas uma mão, veio a decisão por pênaltis. Na segunda cobrança, Trezeguet manda uma bomba no travessão. Todos seguem convertendo as penalidades. Último a cobrar pela Itália, Fabio Grosso, que havia feito um golaço que eliminou a Alemanha nas semifinais, pegou a bola. Tensão. Mas o lateral bateu bem e garantiu o tetracampeonato italiano. Para minha alegria, que, confesso, estava torcendo para a Itália. Vai ver por isso foi tão inesquecível.

Destaques da Folha de Pernambuco

A decisão do terceiro lugar da Copa do Mundo da África do Sul é o principal destaque da edição deste sábado do caderno Folha na Copa. Uruguai e Alemanha se enfrentarão às 15h30 (do Recife), no estádio Nelson Mandela Bay, em Port Elizabeth. Os uruguaios querem fechar bem uma campanha surpreendente, já os alemães buscam motivação após a derrota para a Espanha na semifinal.

Veja também quem são os dez atletas que estão concorrendo ao prêmio de melhor jogador do Mundial. Vai uma dica: nenhum brasileiro está na lista. E na véspera da grande final, Holanda e Espanha fazem os últimos preparativos.
 

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