Sobre certas coisas...

domingo, 11 de julho de 2010

LEUSA SANTOS
Editora Executiva

Final de Copa. Resultado justo: Espanha campeã. A estratégica Holanda não suportou a perfeição do toque de bola espanhol. Quanto mais jogos vi, mais tive a certeza de que a Seleção Brasileira, pentacampeã para sempre (pelo menos é assim que se comporta), tem muito a melhorar. E por incrível que pareça arrisco a dizer que não é dentro de campo, mas fora dele. Não é em plena Copa, mas antes dela. O Brasil perdeu 50% da Copa antes do Mundial começar. Dunga teimoso, Kaká bichado e apenas Lúcio com fome de jogo não poderia ser outra coisa a não ser o fiasco que foi.

Mas vamos falar de quem jogou bola nessa final histórica. Holanda e Espanha. Dois times ávidos pela taça. Desde sempre notou-se isso. E notou-se também com a Alemanha, a Argentina e até com Gana. Os espanhóis quiseram, lutaram, mereceram... ganharam. Resultado óbvio para uma equipe que tem a humildade e o sentimento de batalha nos pés. Sem afobação e desespero de quem não pode perder, mas também sem a apatia de quem não aceita um revés. A Espanha soube, dentro de campo, controlar essas emoções tão próximas da nossa Seleção e sufocou a Laranja Mecânica.

Também se a Holanda tivesse ganhado teria seus méritos. E méritos justos. Afinal, foi uma equipe que também levou a Copa a sério. Estratégica, focada, organizada. O pecado? Talvez ter incutido neste 11 de julho um favoritismo ainda precipitado. Dava para ver nos rostos dos jogadores a decepção de quem já se via com a taça na mão. Mas, assim como os espanhóis, jogaram, lutaram e buscaram o tempo todo imprimir a marca laranja nessa Copa. Não deu. Fazer o quê? Alguém tem que ganhar e, para isso, alguém tem que perder.

Que o Canarinho tire uma lição desta Copa, já que não aprendeu em 2006: futebol se ganha jogando bola e não admirando o próprio currículo. Mas vamos relaxar. Afinal, o tão simpático polvo acertou! Será que ele vem pra cá em 2014? Se Teixeira continuar na CBF vai ser fácil esse amiguinho excluir da sua escolha uma certa seleção. Adivinha qual?

A Fúria "Roja"

FELIPE AMORIM

Foi merecido. Apesar de a Espanha ter vencido o seu quarto jogo na Copa do Mundo pelo placar de 1x0, o título não poderia ter ido para mãos melhores. Tudo bem, eu concordo que o futebol apresentado desta vez pela La Roja deixou a desejar. Mas também os holandeses pouco fizeram no Soccer City, nesta tarde, em Johannesburgo. Além de bater muito, ficou comprovado que a verdadeira amarelona é a Orange: tri-vice-campeã (1974, 1978 e 2010).

Como já disse acima, a qualidade do jogo deixou a desejar. No primeiro tempo, pouco se criou. Apenas David Villa, aos 11, e Robben, aos 46, fizeram a torcida soltar o grito de "uhhhh". O destaque mesmo ficou pela quantidade abusiva de violência. O árbitro inglês acabou distribuindo seis amarelos. Na segunda etapa, a pancadaria foi maior. Resultado: com os oito amarelos da Holanda e quatro da Espanha, além do vermelho dado aos vice-campeões, a final de 2010 foi a que teve mais cartões dados. Até então a decisão de 1986, vencida pela Argentina, por 3x2 contra a Alemanha Ocidental, com seis amarelos, tinha sido a mais violenta.

Mas quando os atletas resolveram jogar, o futebol melhorou no segundo tempo. Se Robben tivesse assistido aos jogos do Flamengo na época de Zico, ele teria aprendido a driblar o goleiro na frente do gol como o Galinho cansou de fazer. Como não aprendeu, ele desperdiçou a chance de abrir o placar aos 16 minutos e aos 37. Agora, os espanhóis também vacilaram muito. Aos 24, David Villa, após uma incrível furada de Heitinga, mandou em cima do goleiro, e não fez mais nada no jogo. Uma pena, pois poderia ter deixado o campo como destaque.

Veio a prorrogação e a aflição continuou, como manda ser uma verdadeira final. A posse de bola da Fúria era nítida. Lembrou os toureiros duelando com os touros, nas arenas espanholas. Mas faltava o golpe final, no caso a forma no pé dos atletas. Sorte deles que o ditado do "quem não faz, leva" não entrou em campo. Só quando se desenhava a segunda final seguida a ser decidida nos pênaltis é que o gol saiu, para a felicidade daqueles que seguiram o palpite de Paul, o polvo. Coube a Iniesta proferir o golpe fatal, com um chute cruzado. Festa no Soccer City. Festa na Espanha. O mundo conhecia a verdadeira Fúria, a oitava equipe a conquistar a Copa.

Muita porrada e pouco futebol

FELIPE AMORIM

Este primeiro tempo da final da Copa do Mundo entre Holanda e Espanha lembrou muito um jogador: Felipe Melo. Se o volante da Seleção Brasileira estivesse em campo, ele estaria bem à vontade, afinal, a pancadaria "comeu no centro" nestes 45 minutos. Para quem esperava um futebol vistoso, teve que se contentar com muita marcação, pouquíssimas chances de gol e cinco cartões amarelos. Por enquanto, o placar de violência está 3x2 para a Orange. Isso mesmo. Se o árbitro inglês Howard Webb não punisse os infratores, poderia ter sido pior. E olhe que ainda teve "neguinho" saindo no lucro.

Dos cinco amarelos aplicados pelo árbitro, quem conseguiu se safar foi o volante De Jong. O lance do holandês, dando uma verdadeira voadora na caixa dos peitos de Xabi Alonso, parecia mais com a cena dos filmes do finado Bruce Lee. No mais, os amarelos dados aos "Vans" Bommel e Persie, pelo lado laranja, e a Puyol e Sérgio Ramos da Espanha foram justos.

Fora a sessão de pancadaria, o que me chamou a atenção (também negativamente) foi a ineficiência do meio de campo da Espanha. Se durante a Copa este setor jogou muito, até agora Xavi e companhia não produziram muita coisa. Mas a falta de qualidade não é privilégio da Fúria. Do lado holandês, o maestro e candidato a craque do Mundial, Sneijder também pouco apareceu. Pelo quase pouco criado, o placar em branco até foi justo. Vamos torcer para que o segundo tempo melhore e os gols saiam.

A final de 98 e as coxinhas de tia Rosa

YURI DE LIRA

Mil novecentos e oitenta e nove: caía o muro de Berlim, Fernando Collor era eleito presidente da República, as tropas soviéticas deixavam o Afeganistão, o seriado Os Simpsons estreava na TV. Em meio a toda essa efervescência, eu nascia. Teoricamente, a minha primeira Copa do Mundo seria a de 1990 - na Itália. Mas qual a graça que um bebê de um ano iria achar em um bocado de marmanjos correndo atrás de uma bola? No máximo, a bola. Só fui saber que houve esse campeonato depois de um tempinho. Uma pena. Se mamãe e papai fossem mais apressadinhos, eu teria visto jogadores como Maradona, Careca e Klinsmann voando dentro de campo. Do Mundial seguinte, tenho apenas lembranças vagas. Me recordo mais de Boris Yeltsin enviando tropas russas à Chechênia que do tetra conquistado pela Canarinho, nos Estados Unidos. Brincadeira, é claro. Mas com cinco primaveras recém-completadas, o esporte bretão ainda não tinha me cativado.

A minha grande Copa só foi acontecer em 1998. Naqueles tempos, o futebol já pulsava nas veias deste que os escreve. Esboçava uma torcida pelo Brasil. Toda santa partida, minha família e meus vizinhos se reuniam. Faziam churrasco, compravam comida e jogavam conversa fora. Eu adorava aquilo tudo. Aproveitava para comer os quitutes feitos por tia Rosa, especialmente as coxinhas. Crocantes, super-recheadas e um tanto oleosas, elas pareciam divinas para mim (eu era gordinho, quase obeso). Achava a comilança o mais legal de tudo. Cada fase que o selecionado nacional avançava era sinônimo de mais farrinhas e mais glutonice. O espírito de gordo reinava! Grudava na televisão, pegava os tira-gostos e avante, Brasil!

Lembro também que na época teve até uma moda de usar umas luvinhas nas cores verde-amarelo. Todo pirralho tinha uma. Para não ficar de fora, entrei na onda. Estava empolgadíssimo. Pensava que ninguém nos venceria. Após a primeira fase, veio Chile, Dinamarca e Holanda. Lapada em todo mundo. Esses dois últimos, por sinal, me renderam momentos de extrema angústia. Era muita emoção para um torcedor de nove anos de idade.

O pior, todavia, estava reservado. Na grande final, diante dos franceses, aconteceu a tragédia. Quando soube que Ronaldo não entraria em campo, previ o pior. Quando soube que Edmundo ocuparia o seu lugar, me desesperei. O Fenômeno, no entanto, foi à batalha. Fiquei aliviado. O resto da história me desagrada bastante. São coisas que não saem da memória tão fácil. Foram três gols avassaladores em cima da gente. Os dois primeiros, de Zidane, puseram a minha animação lá embaixo. Petit (para o jovem Yuri, infelizmente, não era o Gateau) marcou o terceiro e me desmoronou. De tanta tristeza, parecia até que a derradeira e mais saborosa coxinha de tia Rosa havia caído no chão e se espatifado.

Se espatifavam, na verdade, os sentimentos daquele garotinho. O amargo 3x0 não me fez chorar. Sempre fui forte para essas coisas. Sabia que aqueles atletas não mereciam as minhas lágrimas. Talvez o que mais me confortava era o fato de aquele ser o último jogo do escrete tupiniquim no torneio, ou seja, as farras (e, consequentemente, as coxinhas free) acabariam de todo jeito. Acabaram da pior forma possível para um menino que aspirava maiores amores pela Seleção. Restaram as coxinhas. Essas, sim, amo até hoje.

Resta um

FELIPE AMORIM

Depois de 63 partidas, eis que chegou o grande momento da Copa do Mundo: a finalíssima. Mesmo sem a Seleção Brasileira por lá, a atenção de todo o País estará voltada, às 15h30, no Estádio Soccer City, em Johannesburgo, o palco da decisão. Afinal, Espanha ou Holanda, uma dessas duas se tornará a oitava equipe a levantar a taça mais cobiçada do planeta bola. Fúria ou Oranje, quem levará a melhor? Pegue a sua bebida, prepare o seu tira-gosto e faça sua aposta, porque os craques estão prestes a entrar no gramado. Hoje, companheiros, veremos história. Veremos um novo campeão mundial.

Pela primeira vez, não teremos Argentina, Itália, Alemanha ou Brasil entre os finalistas. "Culpa" dos espanhóis e holandeses, que eliminaram germânicos e canarinhos, nessa ordem. Na minha humilde opinião, é bom para o futebol, que será oxigenado. Afinal, em 18 edições até então, só haviam tido o gostinho de levantar o caneco Brasil (cinco vezes), Itália (quatro), Alemanha (três), Uruguai (duas), Argentina (duas), Inglaterra (uma) e França (uma).

Voltemos ao duelo desta tarde. Por terem eliminado os favoritos alemães na semifinal, por 1x0, e com o melhor toque de bola desta Copa, a Espanha, para mim, chega como franca favorita. Se levar, exterminaria, de uma vez, o estigma de "amarelona", além de consagrar uma geração de craques.

Por outro lado, ficaria também feliz se a Holanda fosse campeã. Nada mais justo do que o "futebol" corrigir um erro do passado, quando o Carrossel Holandês ficou com o vice em 1974 e 1978. Mesmo não lembrando nem de longe aquele belo time, o fato de chegar à final com 100% de aproveitamento é de impor respeito a qualquer adversário, até na Espanha.

Bom, pela qualidade das duas equipes, o futebol já sai como o grande vitorioso. Agora vamos rezar para que a partida dê gosto de ser ver, como manda uma final de Copa do Mundo. A torcida agradece.

2002: Gols adornaram a final

GUSTAVO PAES

Passeando com certa facilidade, o Brasil venceu a Alemanha em 2002 sem os requintes de crueldade (com os corações brasileiros) de 1994. Poder gritar gol em uma final de Copa do Mundo – já que nos pênaltis do Mundial dos Estados Unidos o nervosismo era tanto que só saíam alguns grunhidos quando a rede era estufada pelos cobradores brasileiros-, tornou a decisão diante dos germânicos muito especial para mim.

Na época, ainda adolescente, superstições para ver futebol ainda faziam parte do meu repertório. Tinha assistido a todos os jogos em uma farra organizada por vizinhos bem mais velhos e familiares. Na época da grande final, meu antigo colégio estava recebendo estudantes de todo o Nordeste para uma competição poliesportiva. Ou seja, telão, centenas de jovens da minha idade e muita festa. Mas não teve quem me fizesse sair do lado da velha guarda. Não me perdoaria se quebrasse a “corrente” e o Brasil perdesse. Jovens...

Mas depois do segundo gol de Ronaldo Cascão, veio a confiança que eu precisava. Ainda segurei por alguns instantes (por garantia), mas disse até logo aos que estavam ao meu lado, já em festa. O Brasil apenas contava os minutos para ser campeão. Corri como um maluco do meu prédio até o colégio – um trajeto de uns 5 minutos e naquela época eu estava relativamente em forma. Lembro-me que caía uma chuva fina. Tamanha era a sutileza que parecia proposital, poético.

E talvez fosse mesmo proposital. Para disfarçar o choro do babaca emotivo, pois durante a “maratona”, os olhos já marejaram, assim como acontece agora no momento da lembrança. Pior. O maluco com a camisa do Brasil correndo pelas ruas do bairro das Graças recebeu apoio do povo. “Vai lá garoto, o Brasil vai ser campeão”, gritou um da janela, batendo palmas. Um prédio à frente e um casal anuncia o final da partida. “Cabou o jogo, é penta. Vai rápido, vai”, e acenavam para mim.

Todos pareciam imaginar qual era o objetivo. E ele foi alcançado. Entrei esbaforido no auditório onde estava o telão. Sem a devida oxigenação no cérebro, demorei a encontrar os rostos conhecidos. Mas foi tudo muito rápido. Foi avistar os amigos, dar aquele abraço emocionado, e eis que surge Cafu no telão, com um sorriso histórico. Sua boca ainda se moveu para alguns dizeres. Algumas horas depois – talvez até dias, não lembro ao certo -, ficamos sabendo que ele fez uma homenagem para a esposa. “Regina, eu te amo”, disse o capitão. E levantou a taça. Eu vi, após a corrida mais importante da minha vida. O resto é história.

Final de Copa dentro de um carro

FLÁVIO BATISTA

Hoje é um dia especial. Domingo de final de Copa do Mundo. Jogo que traz toda uma carga emocional. Coroa heróis. Marca vilões. E a primeira decisão do torneio que me lembro de ter acompanhado foi a de 1990, envolvendo Alemanha e Argentina.

E acompanhei de uma forma bem peculiar. Na época, eu tinha nove anos e como se diz no interior, "não tinha querer". No domingo da final da Copa, saímos de Carpina, cidade onde eu morava, e fomos para o Recife, visitar minha avó materna. Dia super agradável em família, tal... eis que meu pai resolve voltar para Carpina bem na hora do jogo.

Mesmo pequeno, já começava a despertar para o mundo esportivo e queria muito assistir à final. No entanto, não teve jeito. Ainda vimos o primeiro tempo, pela TV, na casa da minha avó e no intervalo, pegamos a estrada.

Para não ficar tão alheio ao que se passava na Itália (sede da Copa de 1990), ligamos o rádio. Teve até comemoração quando Brehme fez o gol de pênalti que garantiu o título para a Alemanha. Naquele momento, minha torcida era para chegar mais rápido em casa para ver a taça sendo levantada. Não deu tempo. Mesmo assim, essa minha primeira final de Copa do Mundo vai ficar guardada para sempre na minha memória.

Destaques da Folha de Pernambuco

É domingo de final de Copa do Mundo. Holanda e Espanha decidem o título na África do Sul e você, leitor da Folha de Pernambuco, entra no clima através do caderno Folha na Copa.

Além da apresentação da partida, com as escalações, as campanhas das seleções até aqui e o duelo de artilheiros entre Sneijder e Villa, preparamos um vasto material.

Saiba como foram as duas finais de Copa perdidas pela Holanda, em 1974 e 1978. Conheça também um holandês e um espanhol que torcerão por suas seleções neste domingo bem longe de casa. Ambos estão morando em Pernambuco e já trataram de reunir os amigos para acompanhar a decisão.

E entre os jogadores dos três grandes times do Recife - Náutico, Santa Cruz e Sport -, qual é a torcida para mais tarde? Leia na sua Folha de Pernambuco.
 

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