A final de 98 e as coxinhas de tia Rosa

domingo, 11 de julho de 2010

YURI DE LIRA

Mil novecentos e oitenta e nove: caía o muro de Berlim, Fernando Collor era eleito presidente da República, as tropas soviéticas deixavam o Afeganistão, o seriado Os Simpsons estreava na TV. Em meio a toda essa efervescência, eu nascia. Teoricamente, a minha primeira Copa do Mundo seria a de 1990 - na Itália. Mas qual a graça que um bebê de um ano iria achar em um bocado de marmanjos correndo atrás de uma bola? No máximo, a bola. Só fui saber que houve esse campeonato depois de um tempinho. Uma pena. Se mamãe e papai fossem mais apressadinhos, eu teria visto jogadores como Maradona, Careca e Klinsmann voando dentro de campo. Do Mundial seguinte, tenho apenas lembranças vagas. Me recordo mais de Boris Yeltsin enviando tropas russas à Chechênia que do tetra conquistado pela Canarinho, nos Estados Unidos. Brincadeira, é claro. Mas com cinco primaveras recém-completadas, o esporte bretão ainda não tinha me cativado.

A minha grande Copa só foi acontecer em 1998. Naqueles tempos, o futebol já pulsava nas veias deste que os escreve. Esboçava uma torcida pelo Brasil. Toda santa partida, minha família e meus vizinhos se reuniam. Faziam churrasco, compravam comida e jogavam conversa fora. Eu adorava aquilo tudo. Aproveitava para comer os quitutes feitos por tia Rosa, especialmente as coxinhas. Crocantes, super-recheadas e um tanto oleosas, elas pareciam divinas para mim (eu era gordinho, quase obeso). Achava a comilança o mais legal de tudo. Cada fase que o selecionado nacional avançava era sinônimo de mais farrinhas e mais glutonice. O espírito de gordo reinava! Grudava na televisão, pegava os tira-gostos e avante, Brasil!

Lembro também que na época teve até uma moda de usar umas luvinhas nas cores verde-amarelo. Todo pirralho tinha uma. Para não ficar de fora, entrei na onda. Estava empolgadíssimo. Pensava que ninguém nos venceria. Após a primeira fase, veio Chile, Dinamarca e Holanda. Lapada em todo mundo. Esses dois últimos, por sinal, me renderam momentos de extrema angústia. Era muita emoção para um torcedor de nove anos de idade.

O pior, todavia, estava reservado. Na grande final, diante dos franceses, aconteceu a tragédia. Quando soube que Ronaldo não entraria em campo, previ o pior. Quando soube que Edmundo ocuparia o seu lugar, me desesperei. O Fenômeno, no entanto, foi à batalha. Fiquei aliviado. O resto da história me desagrada bastante. São coisas que não saem da memória tão fácil. Foram três gols avassaladores em cima da gente. Os dois primeiros, de Zidane, puseram a minha animação lá embaixo. Petit (para o jovem Yuri, infelizmente, não era o Gateau) marcou o terceiro e me desmoronou. De tanta tristeza, parecia até que a derradeira e mais saborosa coxinha de tia Rosa havia caído no chão e se espatifado.

Se espatifavam, na verdade, os sentimentos daquele garotinho. O amargo 3x0 não me fez chorar. Sempre fui forte para essas coisas. Sabia que aqueles atletas não mereciam as minhas lágrimas. Talvez o que mais me confortava era o fato de aquele ser o último jogo do escrete tupiniquim no torneio, ou seja, as farras (e, consequentemente, as coxinhas free) acabariam de todo jeito. Acabaram da pior forma possível para um menino que aspirava maiores amores pela Seleção. Restaram as coxinhas. Essas, sim, amo até hoje.

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