2002: Gols adornaram a final

domingo, 11 de julho de 2010

GUSTAVO PAES

Passeando com certa facilidade, o Brasil venceu a Alemanha em 2002 sem os requintes de crueldade (com os corações brasileiros) de 1994. Poder gritar gol em uma final de Copa do Mundo – já que nos pênaltis do Mundial dos Estados Unidos o nervosismo era tanto que só saíam alguns grunhidos quando a rede era estufada pelos cobradores brasileiros-, tornou a decisão diante dos germânicos muito especial para mim.

Na época, ainda adolescente, superstições para ver futebol ainda faziam parte do meu repertório. Tinha assistido a todos os jogos em uma farra organizada por vizinhos bem mais velhos e familiares. Na época da grande final, meu antigo colégio estava recebendo estudantes de todo o Nordeste para uma competição poliesportiva. Ou seja, telão, centenas de jovens da minha idade e muita festa. Mas não teve quem me fizesse sair do lado da velha guarda. Não me perdoaria se quebrasse a “corrente” e o Brasil perdesse. Jovens...

Mas depois do segundo gol de Ronaldo Cascão, veio a confiança que eu precisava. Ainda segurei por alguns instantes (por garantia), mas disse até logo aos que estavam ao meu lado, já em festa. O Brasil apenas contava os minutos para ser campeão. Corri como um maluco do meu prédio até o colégio – um trajeto de uns 5 minutos e naquela época eu estava relativamente em forma. Lembro-me que caía uma chuva fina. Tamanha era a sutileza que parecia proposital, poético.

E talvez fosse mesmo proposital. Para disfarçar o choro do babaca emotivo, pois durante a “maratona”, os olhos já marejaram, assim como acontece agora no momento da lembrança. Pior. O maluco com a camisa do Brasil correndo pelas ruas do bairro das Graças recebeu apoio do povo. “Vai lá garoto, o Brasil vai ser campeão”, gritou um da janela, batendo palmas. Um prédio à frente e um casal anuncia o final da partida. “Cabou o jogo, é penta. Vai rápido, vai”, e acenavam para mim.

Todos pareciam imaginar qual era o objetivo. E ele foi alcançado. Entrei esbaforido no auditório onde estava o telão. Sem a devida oxigenação no cérebro, demorei a encontrar os rostos conhecidos. Mas foi tudo muito rápido. Foi avistar os amigos, dar aquele abraço emocionado, e eis que surge Cafu no telão, com um sorriso histórico. Sua boca ainda se moveu para alguns dizeres. Algumas horas depois – talvez até dias, não lembro ao certo -, ficamos sabendo que ele fez uma homenagem para a esposa. “Regina, eu te amo”, disse o capitão. E levantou a taça. Eu vi, após a corrida mais importante da minha vida. O resto é história.

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