A maldição da Nike

terça-feira, 29 de junho de 2010

DIOGO MONTEIRO
Da Editoria de Política

Não sei se tem a ver com o fato de a Adidas ser um dos patrocinadores oficiais da Copa do Mundo, mas o fato é que a sua concorrente, a Nike, mostrou-se um pé-frio ainda maior que o rolling stone Mick Jagger. Pouco antes da competição, a marca americana lançou um comercial de TV em formato de super-produção milionária, estrelado por alguns dos maiores craques da atualidade. A peça, uma das melhores já feitas para o mercado esportivo, mostrava como, no decorrer de apenas um lance, o atleta podia escrever o seu futuro, conquistando a fama e a glória, ou caindo no profundo esquecimento.

Pois não é que o "reclame" caiu como uma maldição sobre suas estrelas? Uma a uma, todas elas se apagaram na competição. Canavarro e Ribéry não jogaram nada e caíram com as participações pífias de suas Itália e França, que nem chegaram à segunda fase. Esse também foi o destino da Costa do Marfim, de Drogba. O atacante quebrou o braço na pré-temporada e também pouco fez, além do gol contra o Brasil, que nem minha avó, Dona Elza, perderia. Rooney correu, bufou, fez cara feia, mas gol que é bom, neca. Resultado: a seleção da Rainha deu adeus à competição nas oitavas de final. Hoje, foi a vez de Cristiano Ronaldo, que até se esforçou. Correu, chutou, apanhou até quase desmanchar o penteado, mas não conseguiu evitar a derrota de Portugal para a Espanha.

Ronaldinho Gaúcho, que também estava no comercial, nem sequer chegou a dar vexame na África do Sul. A maldição da Nike acertou o dentuço antes, e ele sequer foi relacionado pelo nosso boquirroto treinador. Ainda bem. Antes ele do que nós. Valeu pela teimosia, Dunga!

Experiência atrás das grades

GUSTAVO LUCCHESI

Com tantos fatos e histórias violentas, triste e macabras, relatadas pelos meios de comunicação, é mais do que natural que a imagem da sociedade brasileira sobre o seu sistema carcerário seja a pior possível. Porém, após fazer uma visita à Penitenciária Juiz Plácido de Souza, em Caruaru, no Agreste do Estado, eu saí de lá com a sensação de que ainda há esperança. Antes que alguém pense o pior, eu fui acompanhar o jogo entre Brasil e Chile, pela Copa do Mundo de 2010, o que rendeu três matérias para o jornal de hoje (29 de junho). Confiram! Modestia à parte, ficaram bem bacanas.

Mas, voltando, a unidade de Caruaru só tem em comum com as restantes a superlotação. Onde deveria caber 98 detentos, vivem 1.030. Porém, basta olhar com os próprios olhos para este número perder a classificação de absurdo.


Sérgio Bernardo

Para se ter noção, 70% da população trabalha na unidade, seja como auxiliar de cozinha, costurando calças, colando etiquetas, fazendo artesanatos, ou até mesmo dando aulas de instrumentos musicais. Essa ocupação da maioria dos internos é o grande segredo para combater o famoso e temido "mente vazia é oficina do diabo". Além disso, um ano de trabalho reduz a pena em quatro meses. E como explicou um detento, quatro meses dentro de qualquer presídio vale quatro anos na mente deles, logo, mentalmente eles trabalham um ano e livram quatro (é bom pensar assim, vá por eles).

Simpática e ao mesmo tempo durona, Cirlene Rocha é uma espécie de presidenta daquela "nação" carcerária. Chefe do presídio há oito anos, ela anda tranquilamente entre condenados por crimes bárbaros até "ladrões de galinha do vizinho". Num esquema bastante peculiar, mas que funciona, Cirlene cria metas para os presos e eles ganham benefícios caso cumpram o acordado. Caso contrário, ela não perdoa na hora de castigar. E é isso que vai remodelando a conduta de vários deles, para quando chegar o dia de serem libertados da "gaiola", estarem pronto para saber voar. E que voem por um novo trajeto, pois errar é humano, mas insistir no erro é... melhor nem imaginar.

Aos portugueses, tormenta

YURI DE LIRA

Foi no Cabo da Boa Esperança que Portugal deu adeus à Copa do Mundo. Nesse mesmo lugar, em 1488, o navegador luso Bartolomeu Dias desvendou para o mundo ocidental uma rota marítima que daria acesso às Índias - sendo o primeiro europeu a chegar no Oceano Índico a partir do Atlântico. Batizou o local, inicialmente, de Cabo das Tormentas - nome bem mais apropriado para a situação dos gajos, hoje, após a derrota de 1x0 para a Espanha. O revés eliminou os comandados de Carlos Queiroz ainda nas oitavas de final do torneio. O Time da Terrinha teve uma atuação discreta na partida - assim como o astro (?) Cristiano Ronaldo.

Os espanhois começaram mais impetuosos. Em cinco minutos, já haviam dado três chutes no gol de Eduardo - além de terem sofrido um suposto pênalti, não marcado pelo árbitro argentino Hector Baldassi. Aos poucos, Portugal foi igualando as ações. Com 20 da primeira etapa, Tiago Mendes arriscou de fora da área, Casillas defendeu, mas não segurou a bola. No rebote, Hugo Almeida fez falta no goleiro e desperdiçou a oportunidade - talvez a mais clara do primeiro ato do espetáculo. Mesmo com um meio-campo recheado de estrelas, a Fúria pecava no último passe, ou melhor, no excesso de preciosismo dos seus atletas.

O início do segundo tempo foi meia-boca. Aos 15, após cruzamento na área, Llorente (que acabara de entrar no lugar de "El Niño" Torres - ineficiente, diga-se de passagem) quase marca de cabeça. A partida esquentou. Dois minutos depois, Xavi deu de calcanhar para David Villa (esse sim, um craque). "El Guaje" chutou em cima do arqueiro, porém, na segunda tentativa, abriu o placar e levou a claque portuguesa à tormenta: 1x0. Os comandados de Vicente Del Bosque continuavam criando chances. Enquanto isso, Casillas, se quisesse, teria tempo até para tomar uma bica (calma, um cafezinho - em Portugal). O luso-brasileiro Liédson entrou no jogo. Discreto.

Como tinha dito aqui no blog, a Seleção dos Quinas dependia excessivamente de Cristiano Ronaldo. Para não variar, ele estava em uma péssima lua. O atacante do Real Madrid preferia fazer caras e bocas para as câmeras a jogar bola. Ruim para a sua equipe, que até tentou esboçar alguma coisinha no final do embate. Totalmente em vão. Aos 44, o zagueiro Ricardo Costa acertou o rosto de Capdevilla e foi expulso - sacramentando o triste fim dos gajos na competição.

Duelo de ibéricos

YURI DE LIRA

Entre os anos de 1580 e 1640, Espanha e Portugal constituíram o que se chamou de União Ibérica, ou Dinastia Filipina. O tempo passou, os países se separaram, mas a rivalidade entre os dois povos aumentou. Hoje, na Cidade do Cabo, as duas seleções medirão forças pelas oitavas de final da Copa do Mundo. De acordo com o técnico do Time da Terrinha, Carlos Queiroz, a partida é uma daquelas que mexe com os brios de todos os envolvidos.

"Há uma rivalidade regional que não diz respeito apenas ao futebol. É uma rivalidade política, social, cultural. É sempre um petisco especial, como um confronto entre Brasil e Argentina ou Inglaterra e Alemanha. É um menu que não acontece todo dia", pontuou o treinador.

Eu, pessoalmente, aposto em uma vitória da Fúria. Arrisco um placar apertado de 2x1. A realidade é que os espanhois têm bem mais qualidade, sobretudo no meio-campo. Creio que a Seleção dos Quinas depende bastante da lua de Cristiano Ronaldo. Se ele estiver mal (o que tem sido uma certa constante), a equipe terá poucas alternativas de jogo.

Diferentemente de mim, "El Niño" Fernando Torres, que ainda não fez gol nesta Copa do Mundo, crê que os adversários não se limitam ao astro do Real Madrid. "Todos sabemos que Cristiano (Ronaldo) é o principal jogador de Portugal. Mas a seleção deles é mais do que só ele", falou à Rádio Marca, da Espanha.

Um simbolismo histórico dará os contornos do embate. O duelo vai ser realizado na Cidade do Cabo (onde encontra-se o Cabo das Tormentas. Atualmente, da Boa Esperança). Foi aí que o navegador português Bartolomeu Dias desvendou para o Ocidente uma rota marítima que, supostamente, se faria chegar às Índias. Quando os comandados de Carlos Queiroz enfrentaram a Coreia do Norte neste mesmo lugar, sabor à Gomes de Sá. Venceram com uma sonora goleada de 7x0. Bom presságio?

Mais uma seleção sul-americana nas quartas de final

IRCE FALCÃO

Japão e Paraguai, sem dúvida, fizeram história no Mundial da África. O motivo é simples: essas seleções foram responsáveis pelo jogo ruim mais nervoso dessa copa. Foi um tal de fica bom, fica ruim, melhora a técnica, depois piora de vez. A melhor parte foram os pênaltis (adoro pênaltis), mas confesso que esperar por eles foi bem difícil.

O Paraguai apresentou um "falso domínio" durante todo o jogo, passando mais tempo com a bola no pé, porém sem aproveitar a posse para ir ao ataque. O time jogou travado, abaixo da expectativa, pois os sul-americanos chegaram no Mundial com uma proposta diferenciada, ofensiva, e os atletas não corresponderam. O Japão aproveitou as roubadas de bola para atacar em velocidade, mas pecou na precipitação nas finalizações, que passaram perto de qualquer setor do estádio, menos do gol (exceto um chute de Matsui que explodiu no travessão). Podiam ter trabalhado melhor os lances.

O destaque ficou por conta das defesas, bem postadas e anulando os jogadores de criação de ambas as equipes. Isso desestabilizou tanto o Japão quanto o Paraguai, que, mesmo sendo mais experiente, ficou perdido diante da marcação japonesa. O duelo foi tão truncado que, no tempo normal, teve apenas cinco lances de perigo real de gol. E só! Um pouco frustrante. A prorrogação elevou - um pouquinho - o nível da partida, já que os times, teoricamente, tinham que se resolver. Mas gol que é bom... nada, nenhum golzinho para animar a torcida.

Nos pênaltis, muita regularidade e eficiência, até Komano exagerar na força e mandar a bola no travessão. A cobrança foi decisiva para selar a eliminação japonesa, pois o Paraguai teve 100% de aproveitamento e garantiu presença nas quartas de final. Apesar de estar fora do Mundial, o Japão, sem dúvida, foi uma das surpresas desta Copa, superando a má fase nas eliminatórias e realizando uma bela campanha.

Sem favorito

IRCE FALCÃO

Se a fase de grupos da Copa do Mundo da África do Sul demorou a empolgar, os primeiros jogos do mata-mata estão tirando o fôlego dos amantes do futebol. O duelo de logo mais, às 11h, entre Japão e Paraguai, promete ser mais uma partida emocionante. Pela campanha na primeira fase, os japoneses levam vantagem, já que conquistaram duas vitórias contra apenas uma dos adversários. Mas se retrospecto ganhasse jogo, os Estados Unidos não teriam sido eliminados por Gana. E se tratando de matar ou morrer, tudo se torna imprevisível.

Em campo, os japoneses correm como ninguém, além de estarem com uma equipe mais madura que nos últimos Mundiais, mostrando equilíbrio entre o veloz ataque, com a presença do habilidoso Honda, e uma defesa em processo evolutivo. A equipe sul-americana também está mudada. A defesa continua forte, presente em todos os setores do campo, mas o sistema ofensivo ganhou mais força, rapidez e eficiência, sob o comando de Roque Santa Cruz, ao lado de Lucas Barrios.

Aposto em um jogo equilibrado, com pinta de ser decidido nos detalhes, como em lances de bola parada. Foi assim que os ninjas asiáticos despacharam a Dinamarca, com uma precisão incrível nas cobranças de falta. Já do lado paraguaio, a estatura mais elevada pode levar vantagem sobre a marcação japonesa. Difícil palpitar em um jogo onde não vejo favoritismo de nenhuma seleção.

Destaques da Folha de Pernambuco

Como deve ser assistir a um jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo dentro de um presídio? Ficou curioso? Nós, da Folha de Pernambuco, também estávamos, tanto que, ontem, fomos a uma penitenciária, em Caruaru, para acompanhar a vitória de 3x0 da Canarinho em cima do Chile, pelas oitavas de final do torneio. Essa reportagem é um dos destaques da edição desta terça-feira do caderno Folha na Copa.

Ainda dentro da cobertura do jogo da Seleção, fomos à Arena Torcida Recife, no Pina, para ver como os ambulantes fazem para vender seus produtos e acompanhar os jogos. É um verdadeiro olho na mercadoria e outro no telão. Teve até um bolão organizado pela reportagem da Folha, cujo prêmio foi a publicação da foto do vencedor dentro da matéria.

E enquanto muitos brasileiros torciam pelo time comandado pelo técnico Dunga contra os chilenos, um jovem pernambucano estava secando a Canarinho. E mais: vestindo a camisa da Holanda, nossa próxima adversária na África do Sul.

Para completar, o caderno Folha na Copa traz nesta terça-feira os dois últimos jogos da fase de oitavas de final do torneio. O Paraguai enfrenta o Japão, às 11h, enquanto que Espanha e Portugal prometem um duelo equilibrado a partir das 15h30. Não deixe de ler!
 

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