A maldição não perdoa

segunda-feira, 5 de julho de 2010

PAULO FAZIO

Este ano foi a vez de Lionel Messi. Em outros, Ronaldinho Gaúcho, Luís Figo, Roberto Baggio e até mesmo Ronaldo. Todos esses jogadores têm em comum em seus currículos o título de Melhor Jogador do Mundo, eleito pela Fifa. Ao mesmo tempo em que compartilharam com a glória máxima individual no esporte, esses craques também foram vítimas de uma mesma maldição: o fracasso na Copa do Mundo que sucede essa eleição. Explico: sobrenaturalmente, desde que o prêmio foi criado, em 1991, todos os que receberam o troféu um ano antes do Mundial foram decepcionantes de alguma maneira no torneio.

Tudo começou com Roberto Baggio. O italiano foi eleito o melhor jogador em atividade no ano de 1993, um antes da Copa dos Estados Unidos. No torneio, Baggio não foi mal dentro de campo. Até foi um dos principais jogadores da Azurra no percurso antes de chegar à final. Lá, selou o início da maldição. Foi o responsável por desperdiçar a cobrança de pênalti que deu o tetracampeonato ao Brasil.

Outro que passou por uma situação parecida foi o atacante Ronaldo. Em 1997, tinha sido eleito o melhor do mundo pela segunda vez consecutiva. Na França, em 1998, era o maior ídolo e figura principal do Brasil. Fez um bom Mundial, marcou cinco gols, mas, justamente na final, foi atingido sem pena pela maldição. Convulsão, mistério e derrota para os donos da casa na grande decisão.

Na África do Sul, foi a vez de Messi. Depois de duas temporadas incríveis no Barcelona, muito se esperou do argentino na Copa. Mas, a não ser pelos primeiros jogos, pouco se viu. Nem mesmo um golzinho para contar história. Nada.

E ele voltou para casa assim como Ronaldinho Gaúcho, em 2006: uma decepção. Na época, 'Roni' fazia chover e fazer sol quando queria dentro de campo. Mas, na Alemanha, foi só mais um no pacote dos descompromissados do grupo de Parreira. A magia que emanava dos seus pés e que todos esperavam havia se acabado.

O mesmo roteiro, e com o mesmo final, se sucedeu com o português Luís Figo, em 2002. Uma maldição inexplicável, que atinge justamente aos que mais se espera lapsos de genialidade em uma Copa do Mundo. Se vivo fosse, Nelson Rodrigues não teria dúvidas: é tudo culpa de "Sobrenatural de Almeida", seu personagem fictício e responsável pelo improvável no futebol. Só pode ser.

Todos de olho em Klose

FELIPE AMORIM

Que futebol é momento ninguém discute. Mas aqui no Brasil, temos a infeliz cultura de não valorizar o que foi feito no passado. Não importa se o jogador deu um título a uma equipe ou se marcou gols belíssimos, se ele não estiver rendendo bem naquele exato momento, ninguém o quer na equipe. Geralmente é esta a lógica que vemos nos clubes brasileiros. Mas com o técnico da Alemanha, Joachim Löw, esta linha de raciocínio não funciona. Se não fosse assim, Miroslav Klose não teria ido à Copa do Mundo.

Antes de pisar em solo sul-africano, o atacante de origem polonesa não atravessava um bom momento no Bayern de Munique, da Alemanha. Prova foram os três míseros gols marcados em 11 partidas na temporada 2009/2010 da Bundesliga. Mas Klose, mesmo na condição de reserva do clube bávaro, acabou sendo selecionado entre os 23 atletas germânicos que foram ao Mundial.

E não é que Miroslav provou mesmo que é jogador de Copa do Mundo? No último sábado, quando completou 100 partidas com a camisa da Alemanha, o atacante, que marcou dois tentos na goleada de 4x0 sobre a Argentina, chegou a incrível marca de 14 gols em Mundiais. Nesta edição, tem quatro. Agora, ele está a apenas um gol de igualar Ronaldo, o maior artilheiro de todos os tempos, e a dois de entrar para a história sozinho.

A marca é expressiva, não há como questionar. Mas convenhamos que atacante por atacante, só mais mesmo o nosso Fenômeno. Independente de chegar, ou não, à final, a Alemanha terá mais duas partidas pela frente (ainda há a disputa do terceiro lugar). Mas vamos ficar na torcida para que a zica do Bayern de Munique chegue logo à África do Sul. Pelo bem do bom futebol.

Os cinco maiores artilheiros

1º lugar - Ronaldo* - 15 gols (1998, 2002 e 2006)
2º lugar - Miroslav Klose - 14 gols (2002, 2006 e 2010) e Gerd Müller (1970 e 1974)
3º lugar - Just Fontaine - 13 gols (1958)
4º lugar - Pelé - 12 gols (1958, 1962, 1966 e 1970)

*em 1994 não jogou nenhuma partida

Uruguai prega a tranquilidade

TERNI CASTRO

Enquanto os holandeses estão esbanjando arrogância - confirmadas ainda mais depois das declarações polêmicas de Sneijder ao afirmar que prefere a tranquilidade do técnico Van Marwijk a dois "idiotas" como Dunga e Maradona - o Uruguai segue na humildade e trabalhando forte para conquistar o objetivo maior de chegar à final da Copa.

O atacante "Loco" Abreu - destaque da última partida quando converteu o pênalti com a famosa "cavadinha", garantindo o Uruguai nas semis - falou a um site sobre as dificuldades que enfrentarão diante dos holandeses, mas ressaltou o poder de disposição dos atletas da Celeste dentro de campo. Com tom de serenidade, o atacante afirmou que terão atenção total com o escrete laranja, mas também que o Uruguai amadureceu bastante durante o torneio e, por isso, tem "armas para vencer" os holandeses.

Concordo plenamente. A Celeste Olímpica, além de ter uma equipe bem posicionada em campo e atacantes decisivos como o craque Diego Forlán, parece que tomou mesmo o gosto de jogar neste Mundial e não desiste de lutar pelo resultado positivo até o último minuto - prova disso foi a mão salvadora do atacante Luís Suarez no fim da prorrogação diante de Gana, impedindo o gol que desclassificaria o selecionado platino. É por isso que volto a afirmar: a Holanda vai ter que rebolar muito se quiser tirar a vaga na grande decisão das mãos uruguaias. Melhor que seja assim, pois é garantia de jogão e promessa de muitas emoções dentro de campo. Que vença a melhor seleção (espero que seja o Uruguai).

O ano do desempate

IRCE FALCÃO

O histórico da Copa do Mundo é repleto de coincidências. São detalhes mínimos, que passariam despercebidos por qualquer mortal. Mas esse tipo de coisa não passa pelos olhos atentos e detalhistas dos amantes do futebol, mais precisamente pelos loucos por Mundiais. Ao longo dos anos, europeus e sul-americanos dividiram a hegemonia na conquista da tão sonhada taça de campeão.

O desempate acontece nesta copa, pois cada continente possui nove títulos. Na América do Sul, Brasil, Argentina e Uruguai são os responsáveis pela conta, enquanto Itália, Inglaterra, França e Alemanha formam o time de campeões da Europa.

O detalhe mais legal para quem gosta de superstição e dados interessantes é que, depois do bicampeonato conquistado pelo Brasil, nos anos de 1958 e 1962, as conquistas aconteceram de forma intercalada (uma Copa para sul-americanos e uma para europeus). Seguindo a escrita dos últimos anos, a Copa da África do Sul terminaria com um campeão da América. Mas Brasil, Argentina e Paraguai deram adeus à competição nas quartas de final.

Pelo andar da carruagem, parece que o retrospecto está perto de mudar, pois das quatro semifinalistas, três são do Velho Continente (Holanda, Espanha e Alemanha). Apenas o Uruguai segue na briga representando a América do Sul. Será que a Celeste manterá a alternância nos títulos?

A Alemanha está sobrando

FLÁVIO BATISTA

Posso estar sendo precipitado, mas, para mim, depois do que vi nas oitavas e quartas de final da Copa, já poderiam entregar a taça de campeã para a Alemanha. É de encher a vista o futebol que a "molecada" está jogando. Contra duas potências da modalidade, Inglaterra e Argentina, oito gols marcados. Duas goleadas sem dó e piedade.

Se o time não tem aquele toque de magia de outrora, consegue ser um símbolo da eficiência (termo muito utilizado atualmente e, na maioria das vezes, para equipes que não merecem tal definição). O time alemão funciona como uma máquina bem ajustada. Tudo no seu lugar e um colaborando com o outro. O verdadeiro futebol coletivo. E com temperos.

Diante dos outros três semifinalistas, sinceramente, não vejo nenhuma seleção superior à alemã. A Espanha, que enfrentará os germânicos na semifinal, chegou à Copa como favorita, mas, até agora, não mostrou o futebol que se esperava dela. Está entre as quatro, mas posso dizer que meio aos trancos e barrancos, vide a sofrida classificação diante do Paraguai, no último sábado.

A Holanda, como o amigo Kauê Diniz já colocou aqui no blog, está uma laranja sem gosto. Resolveu abrir mão do futebol bonito, mas que não vinha trazendo grandes resultados, para adotar uma postura mais pragmática. Vamos ver se o desfecho será interessante. Já o Uruguai está jogando na base da raça, da superação. É muito bonito ver a doação de cada atleta em campo, o orgulho de estar regastando a tradição da Celeste. Apesar de ter a minha torcida, a sensação que tenho é que os uruguaios já foram longe demais diante do que se esperava deles e vai ficar nisso mesmo.

Copa na Rádio Folha FM (96.7)

A Seleção Brasileira está fora da Copa do Mundo, mas a cobertura do maior torneio de futebol do planeta segue na Rádio Folha FM (96.7). Daqui a pouco, a partir das 7h, acompanhe as informações do Mundial no Folha Notícias.

Para ouvir, basta sintonizar 96.7 ou acessar a rádio pela internet, através do endereço da Folha Digital - www.folhape.com.br.

Destaques da Folha de Pernambuco

A demissão do técnico Dunga é o destaque do caderno Folha na Copa desta segunda-feira. A delegação verde-amarelo chegou ontem ao Brasil, após a eliminação do Mundial, diante da Holanda, e o técnico comentou que conversaria com Ricardo Teixeira para decidir se continuaria, ou não, no comando da equipe. No entanto, horas depois, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) confirmou o desligamento do treinador.

Ainda sobre a chegada da Seleção, houve tumulto no Rio de Janeiro. O volante Felipe Melo, expulso no jogo contra a Holanda, foi o mais xingado pela torcida presente no Aeroporto do Galeão. Em compensação, o goleiro Júlio César chegou a ser aplaudido. Em São Paulo, jogadores como Kaká e Robinho deram um drible na torcida e na Imprensa e saíram por um local alternativo do Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos.

E como hoje é segunda-feira, trazemos, mais uma vez, a coluna Agito na Copa, com o zum zum que envolve o maior torneio de futebol do planeta. E ainda tem mais: jogadores argentinos pedem para Maradona continuar na seleção; a Alemanha miscigenada é a grande atração da Copa; a Fúria se diz preparada para encarar os alemães; os holandeses não querem saber de euforia; e o Uruguai curte, com muita descontração, a excelente campanha na África do Sul. Boa leitura!
 

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