Maradona, o Poderoso Chefão
segunda-feira, 21 de junho de 2010
THIAGO SOARES
Da Revista da Folha
A Argentina está me dando medo nesta Copa. E não é tanto por causa do Lionel Messi. É Maradona mesmo. Uma imagem não me sai da cabeça: Maradona, de barba, corpo robusto, paletó bem vestido, beija cada um dos jogadores após o primeiro jogo da seleção portenha. Impossível não me lembrar do clássico personagem Don Vito Corleone (interpretado por Marlon Brando), na série de filmes "O Poderoso Chefão" - inspirados no romance de Mario Puzzo.
Corleone comandava uma família erguida às custas de negócios ligados à máfia italiana: para selar a confiança de seus subalternos, tascava-lhes um beijo. Neles, beijava a testa, o rosto, a cabeça - tal qual Maradona. Quando algum de seus subalternos queria mostrar subserviência, pedia para beijar a mão de Don Vito.
Beijo masculino é um troço forte na cultura ocidental porque nós, homens, somos educados a violar nossas fragilidades. E Copa do Mundo, convenhamos, é um momento em que aqueles atletas que vivem no olimpo do futebol, finalmente, são postos à prova. E se fragilizam. Decepcionam. Ou emocionam.
O beijo à la Don Vito Corleone que Maradona deu em seus jogadores talvez seja a demonstração clara de que todos ali estão fragilizados: de Messi a Higuaín, passando por Tevez e Milito. Todos precisam um do outro. Aquele beijo do Poderoso Chefão pode ser uma espécie de "eu preciso de você" em campo. Um homem pedindo num gesto o que, em palavras, talvez seja por demais banal.
Quando vejo o Maradona-Don Vito, não posso deixar de lembrar de Dunga: comandante de exército. São tipos distintos de liderança: há líderes que conduzem subalternos com uma pena; outros com uma marreta. Não há regra certa para melhor resultado.
Pode ser que Maradona, no fundo, seja um grande performer que, como Marlon Brando, ganhe seu Oscar. Prefiro acreditar que sua genialidade seja tão perspicaz quanto a sua delicadeza.
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