Experiência atrás das grades

terça-feira, 29 de junho de 2010

GUSTAVO LUCCHESI

Com tantos fatos e histórias violentas, triste e macabras, relatadas pelos meios de comunicação, é mais do que natural que a imagem da sociedade brasileira sobre o seu sistema carcerário seja a pior possível. Porém, após fazer uma visita à Penitenciária Juiz Plácido de Souza, em Caruaru, no Agreste do Estado, eu saí de lá com a sensação de que ainda há esperança. Antes que alguém pense o pior, eu fui acompanhar o jogo entre Brasil e Chile, pela Copa do Mundo de 2010, o que rendeu três matérias para o jornal de hoje (29 de junho). Confiram! Modestia à parte, ficaram bem bacanas.

Mas, voltando, a unidade de Caruaru só tem em comum com as restantes a superlotação. Onde deveria caber 98 detentos, vivem 1.030. Porém, basta olhar com os próprios olhos para este número perder a classificação de absurdo.


Sérgio Bernardo

Para se ter noção, 70% da população trabalha na unidade, seja como auxiliar de cozinha, costurando calças, colando etiquetas, fazendo artesanatos, ou até mesmo dando aulas de instrumentos musicais. Essa ocupação da maioria dos internos é o grande segredo para combater o famoso e temido "mente vazia é oficina do diabo". Além disso, um ano de trabalho reduz a pena em quatro meses. E como explicou um detento, quatro meses dentro de qualquer presídio vale quatro anos na mente deles, logo, mentalmente eles trabalham um ano e livram quatro (é bom pensar assim, vá por eles).

Simpática e ao mesmo tempo durona, Cirlene Rocha é uma espécie de presidenta daquela "nação" carcerária. Chefe do presídio há oito anos, ela anda tranquilamente entre condenados por crimes bárbaros até "ladrões de galinha do vizinho". Num esquema bastante peculiar, mas que funciona, Cirlene cria metas para os presos e eles ganham benefícios caso cumpram o acordado. Caso contrário, ela não perdoa na hora de castigar. E é isso que vai remodelando a conduta de vários deles, para quando chegar o dia de serem libertados da "gaiola", estarem pronto para saber voar. E que voem por um novo trajeto, pois errar é humano, mas insistir no erro é... melhor nem imaginar.

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