Uma laranja sem gosto

domingo, 4 de julho de 2010

KAUÊ DINIZ

Sou fã do futebol holandês, até porque, na minha opinião, é o que mais se assemelha ao brasileiro. Eles têm a técnica refinada, objetivam em sua essência o futebol bonito e mantêm viva a figura dos pontas no esquema tático. Características que sempre me fizeram admirá-los e colocá-los como minha segunda seleção de coração.

No entanto, o que a atual Laranja está produzindo nesta Copa do Mundo, apesar da eficiência comprovada nos números – é a única entre as quatro semifinalistas a ter 100% de aproveitamento -, não é digna das suas tradições. E eu não sou uma voz única neste pensamento. O próprio Cruyff, maior ídolo da história do futebol holandês, já fez duras críticas à postura da atual equipe, que eu aponto como a mais fraca Holanda, em termos de beleza técnica , dos últimos 25 anos, tempo em que acompanho de perto futebol. Talentos na equipe existem, até porque Robben, Sneidjer, Van Persie, Kuyt, Van der Vaart sabem jogar bola, mas parecem tolhidos no esquema tático implantado pelo atual treinador.

Após a brilhante Laranja Mecânica da década de 70, vice-campeã mundial em 1974 e 1978, a Holanda passou por um pequeno hiato de talentos, que voltou a florescer na segunda metade dos anos 80. Era o time do eterno Marco Van Basten, um dos maiores centroavantes que pude ver atuar, Ruud Gullit, Frank Rijkaard e Ronald Koeman. Juntos, conquistaram a Eurocopa de 1988. No entanto, essa mesma geração fracassou na Copa da Itália, dois anos depois.

Em 1994, a Laranja só não foi mais longe porque encontrou Romário e Bebeto pela frente, naquele inesquecível 3x2. Mas eles tinham o fantástico Bergkamp, o endiabrado ponteiro Overmars, além de Koeman, zagueiro de potente chute, um dos melhores que vi jogar, Rijkaaard e Aron Winter.

Quatro anos depois, uma geração ainda mais talentosa aparecia e era novamente aniquilada numa Copa do Mundo pelo Brasil, desta vez nos pênatis – ficaram na quarta posição. Mas era um time fantástico e que jogava um futebol refinado, com um meio de campo que dava gosto de ver com Davids, Seedorf, Ronald De Boer e Cocu. Um ataque com Bergkamp e Kluivert, um miolo de zaga com Frank De Boer e Stam, e o goleiro Van Der Sar.

Nos últimos anos, apesar de poucos resultados convincentes, montaram seleções que sempre valorizaram a plasticidade do futebol. Mas, desta vez, o técnico Van Marwijk preferiu trocar o espetáculo pelo futebol de resultado. Pode até ser campeã, mas perde um fã.

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